domingo, 29 de março de 2009

família de formiga

Imagine uma família em que todo mundo trabalha para valer. Minha mãe e meus irmãos são todos formiguinhas trabalhadeiras. Minha tia dá aula nos três turnos há trinta anos, minha outra tia costura e consegue “esticar dinheiro”, atendendo há 50 anos as mesmas freguesas, meu tio é um comerciante até nas horas de lazer, meus primos trabalham pra caramba, minhas primas também. Nosso pessoal têm o trabalho em seu código genético. Comecei a trabalhar com 16 anos simplesmente porque me deu vontade. Ninguém me disse nada, simplesmente falei com uma amiga que dava aula em escola de inglês. Fiz o teste, passei, e comecei a dar aula de inglês básico para três menininhos de 12 anos. Guardei o correio elegante que um deles me mandou: teacher, I love you. Adorava a sala de aula, gostava de preparar o conteúdo,corrigir prova. Com 19 anos, frequentava reuniao de professores. Virei assessora de imprensa conciliando com as aulas, mas não teve como, precisava escolher. Escolhi a carreira e deixei as lessons. Não me arrependo. Desde lá, trabalhei em ritmo frenético por dez anos, e enquanto isso fiz pós-graduação, iniciei o mestrado, escrevi um livro, ah, e tive um filho. E foi aí que pela primeira vez, parei de trabalhar por cinco meses, apenas colaborando em algumas coisas e principalmente, me dedicando aos cuidados com o bebê.

Percepções do meu período sabático:
- a mulher do lar deve ser valorizada porque seu trampo é exaustivo e não ganha nada pra isso.
- Existe uma porção de gente que não trabalha! Não sabia que tinha tanta gente por aí às 3 da tarde! Fiquei impressionada com o pessoal no parque fazendo exercício, no supermercado, no curso de dança! Eles não estão trabalhando, estão vivendo! Ok, talvez estejam desempregados, ou de férias, ou apenas passeando um pouco.
- Estou feliz de voltar a trabalhar e com a mesma vontade de produzir que sempre tive, no entanto hoje considero importante que ao menos de vez em quando, não trabalhemos. - o exercício do ócio criativo realmente vem com o tempo. Nos primeiros dias me sentia um pouco culpada ao tirar uma soneca no meio da tarde. Hoje jamais perderia a chance, pois trabalho, cuido do bebê pequeno e não lembro o que é dormir cinco horas consecutivas). Os Hajjar que me desculpem, mas a siesta é uma delicia.
Volto para o trabalho, mas o vejo diferente.
Volto para o trabalho sabendo que nunca mais serei a mesma.

5 comentários:

Unknown disse...

Acho importante que nos dias de hoje, nós, mulheres tenhamos a consciência de que somos independentes, sim, mas não deixamos de ser mulheres. Não deixamos de querer nossa casa em ordem e nem de ver nossos filhos crescerem. É como diz a música: "dinheiro é bom. Mas uma vez na vida, precisamos lembrá-lo quem é, mesmo, o dono de quem" (algo assim) e saibamos viver a vida aproveitando o melhor que ela tem a nos oferecer. Com trabalho, sim, claro. Mas também com vida própria. :-) Bjs

Jordana disse...

Fico cada vez mais impressionada com a visão que as pessoas tem do trabalho. Se você não pega duas horas de trânsito infernal e se enfia num diabo de um escritório, você não trabalha. Artista não trabalha, dona de casa não trabalha, professor não trabalha, freela, então, bando de vagabundo. Eles falam "você SÓ está cuidado do bebê" ou "você SÓ frila"?

Da vontade de responder "não, babaca, eu também escovo os dentes de vez em quando". Hunf!!

Camila Goytacaz disse...

Adorei a mensagem da Jo e adorei a da Jessica tambem, sao enfoques diferentes, mas concordo com ambas. Jo, voce tem toda razao, temos de ampliar nossa maneira de ver o trabalho muito além do 9 às 18hs, 2a a 6a, afinal tem um monte de gente nestes horários nos escritórios da vida que nao está trabalhando, apenas fingindo :)
beijos

Cantor Hugo Costa disse...

Creio que trabalhar vai muito alem das cabecinhas pensando tranacadas dentro do escritorio! Li agora pouco um texto que dizia que as boas ideia para vida pessoal e profissional vem quando estamos curtindo, tomando uma cerveja, vendo um bebe dar seu primeiro sorriso ou até mesmo em uma aula de dança as 15h!
Amei seu ponto de vista Formiguinha e amei os comentarios...Bjs

Tatê disse...

A cada dia mais me preocupo com o futuro, pois a cada dia mais tenho mais coisas a fazer. Meu Deus! Como conseguimos, né? Ainda não tenho filhos, mas tenho marido, casa, trabalho, cursos e ainda estou tentando aprender inglês, que é o grande calo no meu sapato!
Enfim, somos independentes, sim, mas também somos mulheres carentes, vaidosas, consumistas e que temos TPM!!!